sábado, 18 de março de 2017

Um poema de João Filho



UMA MULHER TODA MÚSICA

Eu pretendi colhê-la num só gesto,
que fosse imaterial, também tangível,
tentei a forma livro, o sonho aberto,
estive atento ao peso do invisível.

Busquei coisas menores, mais modesto,
— uma manhã urbana, a luz possível.
Tudo inútil, desejo o cerne e aperto
o escuro, mesmo sendo tão legível

o corpo branco, nu, dentro da tarde.
Agora me concentro em não fixá-la
em pauta ou pensamento para dar-lhe

o ritmo necessário de quem cala,
a música a envolvê-la sem alarde
enquanto ela caminha pela sala.

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JOÃO FILHO nasceu em 1975, em Bom Jesus da Lapa/BA. Participou de algumas antologias, dentre elas: Terriblemente felices. Nueva narrativa brasileña, Emecé Editores, 2007, Argentina; 90-00: cuentos brasileños contemporâneos, Ediciones Copé, 2009, Peru; Geração Zero Zero, fricções em rede, Língua Geral, 2011, Brasil; Popcorn unterm Zuckerhut, Verlag Klaus Wagenbach, 2013, Alemanha.
Publicou Encarniçado, contos, pela Editora Baleia, em 2004, livro com recente tradução para o espanhol, editado no México em 2015. Com Encarniçado, João Filho obteve grande destaque individual na Festa Literária Internacional de Paraty de 2005. Contudo, voltou ao mercado editorial somente quatro anos mais tarde, com o livro de contos Ao longo da linha amarela em 2009, dando sequência no gênero prosa com o volume de crônicas Dicionário amoroso de Salvador, editado pela Casarão do Verbo em 2014.
No gênero poesia, após uma estreia com o opúsculo As Três Sibilas em 2009, publica A Dimensão Necessária pela Editora Mondrongo, 2014.
O autor ganhou o Prêmio Alphonsus de Guimaraens de 2015, pela Biblioteca Nacional, por seu livro A Dimensão Necessária.

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