quarta-feira, 3 de maio de 2017

Um poema de Wagner Schadeck






ÉDIPO

Nesta cidade de almas enlameadas,
Como dentes que saltam dos cavoucos,
Os paralelepípedos aos poucos
Podres deixam banguelas as estradas.

Os seus sonhos são lâmpadas queimadas
Num corredor de hospício cujos loucos,
Com colchas no pescoço e gritos roucos,
Em fuga se enforcaram nas sacadas.

Em sua entrada, à luz de olhos alertas,
Que piscam pela madrugada adentro,
Por praças e avenidas mais desertas,

Nos muros e edificações do Centro,
Meu olhar nos hieróglifos constringe:
Como decifro esta voraz esfinge?
__________

Wagner Schadeck nasceu em 1983, em Curitiba, onde vive. É tradutor, ensaísta, editor e poeta. Colabora com a Revista Brasileira (ABL), com a Revista Poesia Sempre (BN), entre outros. Em 2015, organizou a reedição de “A peregrinação de Childe Harold”, de Lord Byron, pela Editora Anticítera. Pela mesma editora, em 2017, publicou a tradução de “Odes”, de John Keats.

Um poema de Gustavo Felicíssimo



HAI-KAI

...o vento de outono
como um pássaro que passa
partiu sem adeus...

_____________

Gustavo Felicíssimo é natural de Marília, in­terior de São Paulo, radicando-se na Bahia a partir de 1993. Reside desde janeiro de 2007 em Itabu­na. Escritor e empreendedor cultural. Graduando do curso de Letras (UESC). Possui artigos publicados em importantes revistas, jornais e sites literários, entre os quais citamos: Jornal A Tarde, Revista O Escritor (UBE), e os sites www.cronopios.com.br e www.revistazunai.com. Em 2005, fundou em Salvador, juntamente com ou­tros escritores, o tablóide literário SOPA, do qual foi seu editor. Participa como representante da Bahia na 1ª Conferência Nacional de Cultura, 2005. 2006 – Promoveu o encontro literário SOLTAN­DO O VERBO, em Salvador, durante oito semanas consecutivas, no Restaurante Extudo, onde recebeu 16 escritores para falarem sobre suas obras e ques­tões fundamentais ligadas à literatura. 2007 – Começa a atuar como preparador de textos para diversas editoras. Colaborado com a publica­ção de: Firmino Rocha: Poemas escolhidos e inédi­tos, Via Litterarum. Inicia como colunista do jornal Agora, de Itabuna, atividade que mantém até o ano seguinte. Colabora, em 2008, com a publicação dos seguintes livros: Plínio de Almeida: poesia reunida, Editus; e Rascunhos do Absurdo, de Jorge Elias Neto, Editora Flor & Cultura, Espírito Santo. 2009. É organizador do livro Diálogos: Panorama da nova poesia grapiúna, Editus/Via Literarum. Em 2009, torna-se Diretor de Projetos da Fundação Cultural de Ilhéus. Já em 2010, a publicação da 2ª Edição de Diálogos: Panorama da Nova Poesia Grapiúna. Funda, em 2011, a convite do Teatro Popular de Ilhéus, a Mondrongo Livros. Tem publicado Outros Silêncios. Faz importante palestra no 23º Encontro Nacional de Haicaístas. 2012, funda a revista literária TOCAIA, da qual é um dos editores. Entre muitos prêmios que recebeu ,encontram-se: Prêmio Bahia de Todas as Letras em duas categorias: Poesia e Literatura de Cordel (2009). Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel (Minc, 2011). Menção honrosa no Prêmio Cataratas de Contos (PR). Teve o conto O amigo de Caymmi selecionado para publicação na coletânea do Prêmio Maximiniano Campos de Contos (PE).  Prêmio Yoshio Takemoto de Literatura (SP) em duas categorias: Poesia e Conto, em 2012. Seu mais novo livro de poemas é Procura e outros poemas, também pela Mondrongo. (Texto de Silvério Duque.) 

Um poema de Marra Signoreli


Esta terra tem pássaros vigias
E se plantando aqui some a semente,
Não há árvore que vingue, não há gente
Que acolhe presto e em mútuas simpatias

Os planos mais gentis que tens na mente.
Vai, peregrino, vai. Não vês que fias
Teu ouvido em astutas melodias
Que só te levam a tombar dormente

Na terra amortalhada pelo sono?
Aqui os astros se apagam vela a vela,
Na noite é cega até mesmo a serpente.

Quem aqui deixa o corpo e no abandono
Percorre o labirinto que revela
O ser que fica preso eternamente?

__________________

João Antônio Marra Signoreli nasceu em Goiânia (GO), em 15.12.1989. É bacharel em Crítica Literária pela Universidade de Goiás. Escreve desde os 15 anos de idade. Publicou Klívena Klarim, pela Editora Kelps, dentre outros livros. 

Um poema de Silvério Duque




E sempre, em meu olhar, o mesmo rosto,
a mesma noite, o mesmo labirinto.
O anjo que eu vi cair, já recomposto,
evola-se na luz – Eu não o pressinto...?

Avistei-o, através deste sol-posto,
sob o livor da morte e meus instintos,
ardente e triste sobre os céus de agosto
como as coisas que vi e agora sinto,

pois maior é o Mistério à minha frente.
( Nesse vento indo e vindo pelas portas,
eu penso em Deus e nada está ausente... )

– Somos memória e a morte a todos corta,
meu irmão Esaú precito e crente,
mas só a visão de Deus é o que te importa.

(DUQUE, Silvério. A Pele de Esaú. Itabuna: Via Litterarum, 2010)

_____________

Silvério Duque é baiano, licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Além de poeta, é músico (clarinetista) e professor de Literatura Brasileira. É autor de cinco livros de poesia: “O crânio dos Peixes” (Ed MAC, 2002 ), “Baladas e outros aportes de viagem” ( Edições Pirapuama, 2006 ), “A pele de Esaú” (Via Litterarum, 2010), “Ciranda de Sombras” (É Realizações, 2011)e “Do Coração dos malditos” (Mondrongo, 2013).