quarta-feira, 22 de março de 2017

CENAS DA VIDA BRASILEIRA


Por Bernardo Souto

I

Lima Barreto, nas primeiras décadas do séc. 20, comprazia-se em zombar dos transeuntes que desfilavam de fraque sob o sol escaldante da capital carioca. Enxergava ali uma pseudo-aristocracia que, tendo perdido por completo o senso do ridículo, macaqueava desavergonhadamente os trejeitos dos nouveaux riches de Paris. Hoje, fraques não são mais usados, porém a micagem permanece a mesma -- apenas o verniz é outro. Os fraques foram trocados por suspensórios texanos, gravatinhas-borboleta, cervejas da Escandinávia, cachimbos de Oxfordshire, dentre outras afetações igualmente burlescas... Eis por que os argentinos, não sem razão, nos apelidaram de "los macaquitos".

II


A nossa direita, quase sempre aburguesada, finge que gosta de arte, porque pega mal não gostar. E então, quando vai ao shopping center, geralmente lembra de pôr na mala do carro, junto às hortaliças e às garrafas de Concha y Toro, uma daquelas cópias toscas das naturezas-mortas de Van Gogh impressas em Epson e emolduradas com plástico amarronzado. Já a esquerda faz de sua sub-arte deletéria um substitutivo tosco de religião, ou então veste aquelas camisetas brancas com estampas de Frieda Kahlo ou de Andy Warhol e vai fumar maconha no Leblon.

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