Lima Barreto, nas primeiras décadas do séc. 20, comprazia-se
em zombar dos transeuntes que desfilavam de fraque sob o sol escaldante da
capital carioca. Enxergava ali uma pseudo-aristocracia que, tendo perdido por
completo o senso do ridículo, macaqueava desavergonhadamente os trejeitos dos nouveaux riches de Paris. Hoje, fraques
não são mais usados, porém a micagem permanece a mesma -- apenas o verniz é
outro. Os fraques foram trocados por suspensórios texanos,
gravatinhas-borboleta, cervejas da Escandinávia, cachimbos de Oxfordshire,
dentre outras afetações igualmente burlescas... Eis por que os argentinos, não
sem razão, nos apelidaram de "los macaquitos".
II
A nossa direita, quase sempre aburguesada, finge que gosta de
arte, porque pega mal não gostar. E
então, quando vai ao shopping center, geralmente lembra de pôr na mala do
carro, junto às hortaliças e às garrafas de Concha y Toro, uma daquelas cópias
toscas das naturezas-mortas de Van Gogh impressas em Epson e emolduradas com
plástico amarronzado. Já a esquerda faz de sua sub-arte deletéria um
substitutivo tosco de religião, ou então veste aquelas camisetas brancas com
estampas de Frieda Kahlo ou de Andy Warhol e vai fumar maconha no Leblon.
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